De acordo com Arthur Hayes, co-fundador e CEO da BitMEX, o Bitcoin não é a opção preferível para a lavagem de receitas obtidas ilegalmente, assim como costuma alegar a mídia tradicional. Segundo ele, em vez de criptomoedas, muitos intrusos preferem usar imóveis, especialmente em Hong Kong e nos Estados Unidos.
Em seu estudo, Hayes cita como exemplo a situação em que alguém quer transferir um milhão de dólares em dinheiro para Bitcoin. Para realizar tal operação, há duas opções principais: abrir uma conta em uma corretora ou recorrer aos serviços dos revendedores em uma plataforma OTC.
Uma corretora capaz de lidar com tal volume de liquidez deve ter laços sérios no setor bancário. Os bancos, por sua vez, exigirão uma revisão completa de todas as contas para o cumprimento das regras de combate à lavagem de dinheiro e identificação de clientes. Portanto, se a tarefa é ocultar os fluxos de fundos, é bastante difícil chamar essa opção de ótima: caso seja exigido pelas agências policiais, a corretora será obrigada a fornecer dados do cliente.
A opção alternativa na forma de plataformas OTC é possível, mas, para a decepção dos lavadores, plataformas que trabalham com grande liquidez também são obrigadas a manter conexões bancárias e, consequentemente, cumprir com os requisitos KYC/AML.
Claro, é possível encontrar revendedores de balcão não muito exigentes a esse respeito. Eles estão prontos para fechar os olhos para pequenos “detalhes” como KYC/AML, sendo que ao preferir trabalhar exclusivamente com dinheiro, cobrarão uma considerável comissão – que em alguns casos, pode chegar a 20%. Aí é que surge novamente a questão de saber se esses revendedores têm o estoque de liquidez necessário.
Em contraste com as tentativas de legalizar receitas através do Bitcoin, o mercado imobiliário, por mais estranho que possa parecer para alguns, acaba sendo uma opção muito atraente. Os dois mercados mais significativos a este respeito são Hong Kong, onde o dinheiro chinês é lavado, e os Estados Unidos.
Hong Kong, por exemplo, atrai moradores da China como uma espécie de ferramenta de cobertura de risco: nenhum dos habitantes do Reino do Meio tem ilusões sobre a capacidade do governo de transformar um milionário de hoje em um mendigo com um único clique.
Um interessante detalhe observado por Arthur Hayes é que, enquanto Hong Kong é um membro do Padrão de Declaração Comum (CRS), a propriedade imóvel lá é excluída da lista de ativos sujeitos a relatórios. Já os EUA simplesmente se recusaram a ratificar este acordo.
Assim, a edição do South China Morning Post do ano passado escreveu que os investidores chineses em um esforço para se livrar dos impostos investem em imóveis em Hong Kong. Os Estados Unidos, então, podem ser considerados uma espécie de “paraíso” para aqueles que decidiram legalizar seu dinheiro e se voltaram ao setor imobiliário local para esse fim.
A peculiaridade do mercado imobiliário dos Estados Unidos é que, para a compra de um imóvel por dinheiro abaixo de certo valor, nem a identificação do comprador, nem outros cheques de reputação de empresas ou indivíduos são necessários.
Em alguns lugares, como Manhattan, esse limite pode chegar a US$3 milhões, e a existência do problema foi reconhecida no ano passado pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos (FinCEN), chamando imóveis de uma verdadeira “máquina para lavagem de dinheiro”.
Assim, conclui Arthur Hayes, a lavagem de dinheiro através de criptomoedas é muito problemática se a pessoa não quiser compartilhar seus dados pessoais. É muito mais fácil fazer isso através de imóveis, dado que agentes e corretores estão prontos para fechar os olhos a muitas nuances, incluindo a origem dos fundos.
Chrys é fundadora e escritora ativa do BTCSoul. Desde que ouviu falar sobre Bitcoin e criptomoedas ela não parou mais de descobrir novidades. Atualmente ela se dedica para trazer o melhor conteúdo sobre as tecnologias disruptivas para o website.