Muitas pessoas argumentam que, em 2017, o sistema financeiro tradicional enfrentou uma revolução de criptomoedas. Uma analogia também pode ser feita com a crescente popularidade das forças políticas, cujas ideias são direcionadas contra o estabelecimento – incluindo elites financeiras. Assim, a ordem definida das coisas enfrentou uma série de ameaças e atualmente passa por uma crise profunda.
No entanto, a palavra “revolução” implica certa quantidade de radicalismo no contexto de mudanças sistêmicas. Vários especialistas estão convencidos de que o Bitcoin e a indústria de criptomoedas estão tentando destruir o sistema financeiro baseado no controle centralizado dos Bancos Centrais, ou seja, realizar um “golpe”. Será isso verdade?
Apesar da opinião de alguns respeitáveis economistas e pesquisadores, a indústria de criptomoedas – condicionada pelo progresso tecnológico dos últimos quarenta anos – é uma evolução natural dos padrões existentes,. A descentralização é um modelo mais eficiente de organizar qualquer processo, inclusive os compreendidos na esfera financeira.
Devemos notar que o economista americano, comerciante e autor da teoria do “Cisne Negro”, Nicholas Nassim Taleb, estudando a resistência de sistemas centralizados e descentralizados a situações estressantes, descobriu em seu livro “Anti-fragilidade” que os últimos são muito mais eficientes porque reagem até mesmo aos mais insignificantes fatores de crise. Por sua vez, os primeiros ignoram pequenos estresses, acumulando-os assim em uma grande crise, o que normalmente acaba destruindo o sistema.
Por exemplificar, vale citar os Bancos Centrais de muitos países, que muitas vezes salvam grandes empresas financeiras da falência, prolongando assim a vida do “paciente que não tem cura”. Tais situações estão por trás de muitas crises de estoque. O que esses Bancos Centrais fazem em condições de colapso econômico? Simples: aumentam emissões, ampliando assim a inflação e seguindo um modelo de gestão ineficiente.
A descentralização é um processo “anti-frágil” que não acumula crises, mas resolve os problemas à medida que esses aparecem. Essa “anti-fragilidade” permite que os sistemas descentralizados sejam fortalecidos como resultado de cada estresse.
Assim, um sistema financeiro baseado em uma Blockchain com emissões claramente definidas de unidades monetárias pode ser visto como uma transição natural de um sistema centralizado ineficiente que não pode lidar com crises para um sistema descentralizado efetivo que usa crises para sua própria melhoria.
Falando sobre as vantagens da tecnologia e suas perspectivas, não se pode negar também que, no mercado de criptomoedas – assim como em qualquer outra indústria que seja no início do desenvolvimento – há especulações colossais. Em 2017, foi possível testemunhar o incrível crescimento do Bitcoin e de seus “irmãos”, bem como rígidos despejos organizados por players fortes para ganhar dinheiro a custo de iniciantes e alarmistas.
A falta de um quadro regulamentar na maioria dos países levou a uma “corrida” de criptomoeddas, uma espécie de “criptomania”. É óbvio que, onde há muito dinheiro, há também aqueles prontos a roubá-lo, aproveitando da obsessão de milhões de pessoas.
Seguem abaixo alguns exemplos específicos dos problemas mais agudos da indústria que precisam ser abordados em 2018.
Na noite de 14 de novembro, invasores devastaram milhares de carteiras de usuários e roubaram mais de US$5 milhões devido a uma vulnerabilidade da carteira BTG da MyBtgWallet.
No contexto do impressionante crescimento do Bitcoin Gold na véspera do lançamento fork do sistema principal, um grande número de detentores de Bitcoins almejava obter os BTG gerados como resultado do hardfork a um preço elevado. Essa possibilidade foi fornecida pela MyBtgWallet depois de entrar com uma frase sid da carteira BTC.
Apesar do fato de a MyBtgWallet ter sido postada no site oficial do projeto Bitcoin Gold como uma carteira confiável, presume-se que os invasores ganharam acesso primário às frases sid e se aproveitaram disso para esvaziar as carteiras de Bitcoin dos usuários.
Algumas das vítimas formaram um grupo para negociações com a equipe Bitcoin Gold, o que permitiu que um desenvolvedor de terceiros ganhasse acesso e confirmasse a confiabilidade da bolsa BTG, contudo, vale ressaltar que o problema não foi resolvido diplomaticamente. No momento, um grupo de usuários está preparando processos contra membros da equipe, acusando-os de negligência e possível cumplicidade.
Este caso demonstra claramente as consequências de inserir uma frase sid de uma carteira BTC logo após o lançamento da rede de um novo fork para obter moedas produto o mais rápido possível. Às vezes, uma corrida atrás de “dinheiro fácil” se transforma em uma verdadeira catástrofe.
A equipe BTG recomendou o uso da MyBtgWallet? Sim. Mas, na ausência de um quadro regulamentar bem especificado, é difícil dizer se os representantes do projeto detêm alguma responsabilidade pelo ocorrido. Em qualquer caso, é improvável que os usuários consigam recuperar seus fundos caso os invasores não forem encontrados de imediato.
No início de dezembro, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos apreendeu as contas do residente canadense Dominic Lacroix e de sua empresa PlexCorps, que foi acusada de levar a cabo um esquema fraudulento disfarçada de ICO que prometia aos investidores um lucro de 13 vezes em menos de um mês.
Em seguida, Lacroix foi condenado a dois meses de prisão e a uma multa de US$ 10 mil apenas por desacato, bem como outra multa de US$100 mil, uma vez que não suspendeu as vendas da PlexCoin após a ordem de restrição e arrecadou US$15 milhões de investidores “insuficientemente informados”.
Apesar do fato dos incríveis rallys da indústria de criptomoedas quase todas as semanas, os usuários devem avaliar objetivamente o potencial de um projeto antes de investir, não confiando em truques de marketing e promessas não respaldadas pela tecnologia.
O site do projeto não continha informações sobre patrocinadores ou equipe de desenvolvimento. Além disso, durante o período de pré-vendas, o Whitepaper não estava disponível, e os usuários não podiam se familiarizar com os detalhes técnicos. Também vale à pena notar que o domínio confidencial escondeu todas as informações sobre a empresa que realizava a ICO.
Por fim, os moderadores da página do projeto no Facebook costumavam apagar comentários no caso de perguntas desconfortáveis.
Esses fatores deviam alertar os usuários desde o começo, mas o desejo de receber um lucro de 13 vezes e a busca por “dinheiro fácil” voltaram-se novamente contra os investidores.
O mercado de ICO teve um boom em 2017, com a capitalização quase tingindo US$5 bilhões. Muitos consideram a Oferta Inicial de Moedas uma forma evolutiva de angariar fundos, mas tem os que não concordam com isso, já que a maioria dos projetos não tem um protótipo de tecnologia que pretendem implementar.
ICOs possuem uma série de vantagens, mas também desvantagens significativas, contudo, o que ninguém pode contestar, é o fato de que foram os projetos de ICO que se tornaram um dos principais objetivos dos hackers em 2017.
No contexto de uma “corrida criptomonetária”, os projetos tentaram começar a arrecadar fundos o mais rápido possível, enquanto os investidores não profissionais permaneceram prontos para investir milhões de dólares baseando-se em puro entusiasmo, sem entrar muito em detalhes tecnológicos.
Mesmo que o investidor tenha avaliado com profundidade o potencial do projeto e tomado uma decisão com base em conhecimentos tecnológicos, e mesmo que a equipe do projeto realmente pretenda realizar o que foi prometido e não enganar as pessoas, os fundos ainda podem ser roubados por terceiros.
Então, na busca pela angariação de fundos em 2017, muitos projetos negligenciaram as medidas de segurança necessárias, comprometendo assim não só sua reputação, mas também milhões de dólares que poderiam ser canalizados para o desenvolvimento de uma tecnologia verdadeiramente necessária e útil.
O projeto israelense CoinDash perdeu US$7,5 milhões durante uma ICO devido ao posicionamento de um endereço falso por hackers para desvio dos Ethereum enviados ao site oficial da plataforma. Vale ressaltar que os invasores logo devolveram 10 mil ETH – na época, a taxa do Ethereum era de apenas US$290.
Especialistas esperam que, em 2018, novos padrões para ICOs sejam introduzidos, e que os projetos demonstrem protótipos antes de começar a arrecadar fundos, além de prestarem mais atenção aos problemas de segurança. Afinal, quando hackers roubam fundos de investidores, reivindicações coletivas não são arquivadas contra intrusos diretos, mas sim contra representantes de projetos. Assim, o desrespeito pela segurança levará muitos projetos aos tribunais, e os litígios podem durar anos. Dessa forma, o que deveria ser uma rápida arrecadação de significativos fundos resultaria em um conflito legal caro e danos reputacionais irreparáveis.
Proeminentes representantes da indústria e usuários comuns acusaram repetidamente o projeto BitConnect de organizar uma pirâmide financeira com base em um extenso programa de referência. Enfatizamos que o BTCSoul não tem evidências de que o projeto seja uma pirâmide financeira, os leitores devem entender como projetos criptomonetários podem usar links de referência para enganar os investidores.
Projetos que prometem certos bônus diários, semanais ou mensais em troca de depósitos em criptomoedas podem usar os depósitos de novos investidores arrecadados como parte de um sistema de links de referência multi-nível para pagar aos investidores anteriores.
Nesses casos, os fundadores do projeto provavelmente esconderão informações sobre a natureza da origem dos bônus. Além disso, por trás de um projeto desse tipo, geralmente há uma empresa comercial com uma estrutura de propriedade opaca e contas bancárias em zonas offshore.
No entanto, muitos usuários estão prontos a investir em tais projetos, mesmo que entendam que o risco de se tornar parte da uma pirâmide financeira excede 90%. Tudo depende do grau de aventureirismo no sangue, mas isso prejudica a imagem da indústria das criptomoedas em geral. Nesse sentido, não vale à pena apoiar projetos não transparentes, mesmo que os mesmos prometam gerar lucros fabulosos.
O exponencial crescimento da popularidade das criptomoedas levou à distribuição de vírus extorsionistas, que exigiam resgates em Bitcoin pelo desbloqueio de dados. Muitos especialistas apontam para o possível envolvimento da “Divisão 39” do Partido Trabalhista da RPDC e de um grupo de hackers norte-coreanos sob o patrocínio do regime.
Qualquer tecnologia pode ser utilizada tanto para o bem como para o mal. Nem o Bitcoin, nem a Blockchain são culpados do fato de partes interessadas os usarem para obter benefícios pessoais ilegalmente. Além disso, proibir o Bitcoin apenas pelo fato de que é usado por criminosos é a mesma coisa que a proibir de dólares ou qualquer tipo de fundos fiat que são repassados em “bolsas de esportes”.
O WannaCry e outros vírus extorsionistas evoluíram junto à tecnologia e se adaptaram à nova realidade. Pode-se presumir que, em 2018, os ataques de vírus se tornarão ainda mais sofisticados no contexto de novas alturas para o mercado de criptomoedas, portanto, a comunidade mundial deve desenvolver uma solução abrangente para combater a pandemia ao invés de simplesmente proibir as criptomoedas. Afinal, mesmo que não haja Bitcoin, criminosos encontrarão centenas de outras maneiras de roubar o dinheiro de pessoas comuns.
Chrys é fundadora e escritora ativa do BTCSoul. Desde que ouviu falar sobre Bitcoin e criptomoedas ela não parou mais de descobrir novidades. Atualmente ela se dedica para trazer o melhor conteúdo sobre as tecnologias disruptivas para o website.
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