E essa sequer é a pior “crise” que o mercado de criptomoedas já passou. A cada balançada no valor de mercado das criptomoedas, pessoas tocam a trombeta do apocalipse com a mesma voracidade em que investem irresponsavelmente na época da bonança. Em 2011, quando o valor do Bitcoin caiu de US$32 para US$9, a mídia já dava o atestado de óbito para a criptomoeda. Na verdade, eles eram bem enfáticos quanto a isso: o Bitcoin estava morrendo porque não tinha fundação em nada. Valeu como experiência, mas ainda era “apenas um pedaço de código sem valor”, ao contrário de ouro ou de moedas emitidas pelo governo. O artigo linkado literalmente se despede do Bitcoin, terminando com “vamos lembrar dos bons tempos, como quando aquele rapaz teve um derrame minerando Bitcoins”. Algo parecia estar errado com a argumentação do artigo, já que hoje o preço do Bitcoin, em dólar, é de US$6.339,69.
O começo do ano também foi um tempo ruim para o mercado das criptomoedas. O economista creditado por prever a crise estadunidense de 2008 também disse, nessa época, que o Bitcoin estava caminhando para a maior bolha da história, “criada por charlatões e vigaristas” e continuiria diminuindo em valor até chegar a zero.
Dentre os primeiros sinais de desvalorização e o mais recente, diversos outros episódios pipocaram. O que mais salta aos olhos, no entanto, é que todos culpam o próprio conceito das criptomoedas – ou do caráter dos seus entusiastas – por essas flutuações. O que se observa, na verdade, é que elas estão quase sempre ligadas à eventos externos que, através de força bruta, impedem que um produto de interesse social se fortaleça. No mesmo período (setembro de 2017) em que ICOs sul-coreanas levantavam milhões em alguns segundos, possibilitando o financiamento em massa e voluntário, como nunca antes visto, de produtos virtuais de interesse público e de grande potencial, o governo literalmente baniu a criação de novas ICOs no país. O restante do mundo, infelimente, manteve uma posição parecida. Na Venezuela, país no qual a crise desfalcou a economia em 20% por ano desde 2012, levando 90% dos habitantes a viver, atualmente, abaixo da linha da pobreza, alguns encontraram alívio na mineração de Bitcoins – atividade que, mesmo sendo executada de forma subótima pelos equipamentos dos mineradores locais, ainda servia de grande ajuda num ambiente desolador – e foram recebidos com extorção, violência policial e expropriação dos bens adquiridos de forma honesta por uma população desesperada. Esses são os mesmos agentes que apontam os dedos para as criptomoedas cada vez que há uma diminuição em seu valor de mercado como a que aconteceu recentemente, para afirmar que “avisaram que esse não era um investimento confiável”.
Qualquer analista bem informado pode concordar que criptomoedas são um investimento de alto risco – na última semana, o Bitcoin perdeu quase 10% do seu valor de mercado. Oras, a crise do subprime em 2007 fez com que o patrimônio familiar líquido dos Estados Unidos caísse em 20% no total. Essa foi, certamente, uma lição para que os credores impactados nesse negócio fizessem isso de outra forma, mas crédito, incluindo de risco, continua e vai continuar existindo.
Snapchat, Facebook, Twitter, Google e Amazon também anunciaram que banirão qualquer publicidade relativa a criptomoedas. Para companhias que trabalham como “mediadores”, soluções decentralizadas certamente não parecem um concorrente atrativo. Como exemplo, temos o Basic Attention Token (BAT), solução de publicidade que retribui diretamente tanto o leitor quanto o emissor do anúncio, de forma mais eficiente e sem tomar uma parte do investimento para si, como faz o Google Ads.
Enquanto isso e, apesar disso, a capitalização de mercado das criptomoedas, ao contrário do que diz o sr. Roubini, apesar de balançar, ainda não mostra sinais de que está sequer perto de chegar a zero. O valor de mercadoo das criptomoedas aumenta não só enquanto elas se tornaram a forma mais democrática de investimento financeiro já vista na história, mas também enquanto comunidades desbancarizadas encontram soluções bancárias eficientes e acessíveis através da Blockchain como o Banco Maré, ou quando empresas gigantes como a Mitsubishi decidem abandonar a antiga forma de transferência de valores para fora e enquanto todos os setores das finanças e da indústria passam a incorporar a Blockchain em seus serviços.
A trombeta do apocalipse soa repetidamente que “se seus netos não derem mais valor para esse amontoado de Bits, então ele vai ser um investimento perdido”. A cada nova ATM que faz saques em Bitcoin e a cada novo vendedor que aceita a criptomoeda como pagamento, temos mais certeza de que esses bits estão apenas em sua infância e continuarão tendo valor por muito tempo depois que os diamantes deixarem de ter – estes sim, com seus dias contados.
Carlos Eduardo é um engenheiro frustrado que, ao decidir investir em criptomoedas e estudar o mercado, decidiu que gostava mais disso que do investimento em si. Já trabalhou como consultor para criptomoedas atualmente no top 100, dApps e publica periodicamente em revistas americanas e, aqui no Brasil, na BTCSoul. Acredita que a adoção geral de uma Smart Economy resolveria boa parte dos problemas do mundo.